Cezar Alves
Do Jornal de Fato
O que um país do outro lado do mundo pode influenciar no cotidiano do interior do Rio Grande do Norte, mais precisamente na cidade de Currais Novos, região Seridó? A primeira vista é imaginável alguma influência. Mas, observando bem o quadro, não só o motorista potiguar, mas todos os profissionais do mundo têm suas vidas norteadas pelo que acontece no Oriente. A China tem a força. Em se tratando de mineração, foi capaz de extrair metais o suficiente para derrubar o preço no mercado mundial no final da década de 80 e agora está consumindo o suficiente para elevar o preço com a mesma força que derrubou. Com o fim do governo de Mao Tse Tung, em 1976, a China começou a crescer. Nesse período, as mineradoras ao redor do mundo produziam a todo vapor. No Rio Grande do Norte, havia milhares de mineradores extraindo ouro, xelita, ferro, mica, entre outros metais preciosos, nos municípios de Tenente Ananias, Alexandria, Lajes e principalmente na região Seridó, com destaque para Currais Novos. Na época, o garimpeiro Francisco das Chagas Dantas, de 36 anos, disse que ganhou a vida cavando e quebrando pedras para extrair ouro e xelita. "Os 'homi' vinham pegar o ouro de helicóptero", lembra Das Chagas, que hoje é mototaxista.
Só que a China começou a produzir ouro, ferro, xelita no final da década de 80 em grande quantidade, derrubando o preço no mercado internacional e inviabilizando a produção em dezenas de países, inclusive no Brasil. Das Chagas ficou desempregado. "Paramos de produzir, porque era inviável. Nossas máquinas e nossos profissionais foram contratados pelo Governo do Estado para trabalhar na construção de estradas e na instalação de várias adutoras", diz Rogério Barreto Drummond, diretor financeiro da Mineração Tomaz Salustino S/A, da Mina Brejuí, em Currais Novos. Mesmo produzindo muito, a China, com sua população de 1,3 bilhão de habitantes, começou a reverter o quadro depois do ano 2000. Passou a consumir metais preciosos mais do que extraía em seu território. O consumo no país disparou e fez faltar ferro, xelita e ouro no mercado mundial. O preço do ouro na Bolsa de Valores de Londres, por exemplo, aumentou 540%. Os demais metais, como ferro e xelita, também ganharam preço, não com a mesma proporção do ouro, que virou refúgio para o investidor fugindo da depreciação principalmente do dólar e do euro.
Uma das grandes mineradoras internacionais, a Crusader, da Austrália, por exemplo, virou seus olhos para o Brasil, focando uma parcela considerável de seus investimentos no Rio Grande do Norte, onde comprou a Mina São Francisco, distante 25km de Currais Novos. "Nos últimos quatro meses, requeremos ao Departamento Nacional de Pesquisa Mineral (DNPM) entre 40 e 50 novas áreas no Rio Grande do Norte, somando 100 mil hectares. Não temos resultados dessas áreas ainda, mas temos boas perspectivas", afirma Robert Smakman, diretor do grupo no Brasil. No caso da Mina São Francisco, em Currais Novos, o DNPM recebeu relatórios da Crusader apontando reserva de ouro o suficiente para dez anos de exploração. Robert Smakman informou, em reportagem da Tribuna do Norte publicada no início deste mês, que a previsão é extrair uma média de cinco toneladas de ouro por ano em Currais Novos já a partir de 2015. O motorista Francielio Pereira da Silva Alves, de 28 anos, espera ansioso em Currais Novos pela reativação das minas. "Estou só esperando para começar a trabalhar", diz Francielio Pereira, sem saber explicar direito os motivos da retomada das mineradoras no município.
EXTRAÇÃO DE FERRO - extração está parada na mina do Bonito, em Jucurutu. A empresa responsável pela exploração é a Mhag. Falta estrutura logística para produzir, processar e embarcar o minério extraído em Jucurutu. Já, em Cruzeta, a mineradora Susa está a todo vapor. Já fez os primeiros embarques de ferro para a China e prepara os próximos. Assim como os outros metais mais preciosos, o ferro também ganhou preço no mercado mundial e o principal consumidor é a China.
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